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Porcelain2Doll — O Rosa do Cinza
Published: 2007-10-13 14:54:44 +0000 UTC; Views: 167; Favourites: 1; Downloads: 0
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Description Lembro-me bem de minha infância, na verdade, não muito bem, mas quase. Minha infância não faz muito mais que cinco anos, todavia parece estar muito mais distante.
Eu tinha dez anos enquanto corria pela rua acinzentada de uma cidade acinzentada com meu irmão ao meu encalço. Ele ainda vive ao meu encalço, menos chato e mais piedoso do que era.
Eu era brincalhona e adorava correr do meu irmão, ele apenas bufava me seguindo, ele não gostava de me perseguir quando eu fugia e dizia que eu era muito irritante, além de teimosa. Embora, também dissesse que me amava muito e que eu era a única estrela no céu dele, eu era a única coisinha que resistia e ainda sorria no meio da guerra, diferente do resto de toda a família que morrera, diferente do resto de todos os amigos que chorava. Gostaria de ainda estar dessa forma nos conceitos dele.  
Nós viajávamos a cidade de cima a baixo à procura de lugares onde eu poderia cantar, íamos de uma casa de show à outra, não achávamos muita coisa, pois, como era guerra, ninguém se importava muito com cantar e sorrir e coisas do gênero. Não demorou muito para eu ter que cantar nas ruas, era pobre e cansativo, mas nos ajudava o bastante.
Todo dia eu corria pelas ruas antes do sol nascer e, fugindo do meu irmão, escolhia um local aconchegante entre as flores acinzentadas mais quentes que havia e sentava-me para cantar. Meu irmão, ao me alcançar, pegava seu violão, tirava umas notas e pedia para que eu inventasse uma letra qualquer, eu pensava em como me sentia e criava uma. Eram canções bobas e com um vocabulário bem limitado, mas acho que passavam com sinceridade o que queriam passar, porque as pessoas paravam para me escutar e me davam moedas, notas, ou até mesmo rosas. Foi em uma dessas canções, enquanto minha voz corria e escorria pelas notas de uma música triste sobre mulheres e crianças solitárias longe de seus maridos e pais, que um homem idoso me chamou para junto dele e me entregou seu cartão. “Essa, essa voz é linda, por favor, procure-me, irei arranjar-lhe um emprego digno dessa voz.”, eu me recordo dele ter dito. Depois disso ele me deu uns trocados e foi embora, eu e meu irmão ficamos parados olhando para, em parte, o cartão e, em parte, o idoso que desaparecia pela rua. Eu estava muito feliz, mas meu irmão estava hesitante, ele achava o homem “muito suspeito”, como dizia.
Depois de eu insistir muito mesmo com o meu irmão, consegui que fossemos procurar aquele homem. Fomos ao endereço que dizia no cartãozinho que nos levou a uma casa meio maltratada, ficamos ali, olhando um para o outro, meu irmão estava de braços cruzados segurando o cartão do homem numa das mãos, seus olhos recaídos sobre meu rosto como se me censurassem dizendo: “olha aonde nos trouxe”, e imagino que era realmente isso que ele queria passar.
“Eu já lhe disse que não quero ir, Anna, vamos embora que não precisamos da ajuda dele.”, ele teimou com força.
Eu o ignorei e dei um paço à frente. Ele se postou na minha frente rapidamente, esbarrei nele. Eu tentei passar a sua frente, mas ele me segurou pelos braços.
“Não! Eu já disse que vou, minha voz é a única coisa que pode nos ajudar nesse mundo e vou usá-la!”
Apenas me segurava e me ignorava.
“Deixe-me passar! Deixe-me passar, Ryan!”
E comecei a dar uns leves golpes em seus braços para que ele me largasse, eu era pequenina em comparação ao meu irmão e ele me segurava com uma facilidade extrema o que me deixava sempre muito aborrecida.
“Por que você não quer me deixar ir?! Por quê?!”
Ele continuava a me segurar e a me ignorar, eu ficava tão furiosa que meu rosto já estava vermelho e meus olhos marejados. Eu tinha insistido a semana toda para que fôssemos e, agora que estávamos lá, em frente aquela casa, ele não queria deixar.
“Eu só quero nos ajudar, deixe-me passar! Pare de me ignorar! Por que você não quer me deixar ir?! Pare de me ignorar!”
E, quando eu ia dar-lhe um chute na canela, ele gritou:
“Nem pense nisso!”
Eu quase nunca via meu irmão irritado e vê-lo assim me dava muito medo, então eu me inquietei, abaixei a cabeça, chorei baixo. Ele se ajoelhou e me olhou firme nos olhos.
“Eu vou explicar-lhe. Na guerra ninguém em sã consciência se importa com diversão, música, nesse tempo isso é só para os grandes homens. Então, por que um homem, idoso ainda por cima, iria se importar em arrumar um emprego para você? Ele não é rico, não é político!”
Não posso negar que meu irmão não tinha razão, mas eu imaginava que, se era para correr risco por algo, eu correria risco por algo que me prometia uma vida melhor, ao menos. Então, como eu não tinha nada a dizer, continuei de cabeça baixa.
Meu irmão se levantou e me deu as costas, fazendo o caminho de volta de onde viemos, eu continuei ali, vendo que ele não me esperaria e nem me chamaria.
Quando ele já estava a mais de seis metros de mim, minha cabeça voltou a funcionar como antes: eu queria entrar, queria falar com aquele senhor. Então, resolvi não hesitar mais nem um segundo, caso o fizesse meu irmão me impediria novamente, corri em direção à casa maltratada e me esgueirei até a campainha. Toquei.
Ao ouvir o som titilante ecoando por toda a casa, meu irmão se virou imediatamente, seu rosto estava vermelho e concentrado em mim, ele veio até mim com os pés batendo, e, quando ia me arrastar pelo braço rua a fora, a porta se abriu.
Olhei para a senhora que atendia a porta com um sorriso de orelha a orelha, meu irmão não havia me impedido, e ele olhou para ela com uma expressão mista de raiva e espanto.
“Podem entrar.”, ela nos convidou.
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Comments: 3

Nisai [2007-10-13 15:46:36 +0000 UTC]

Nyaaa... Adoro títulos nada a ver com nada... XD
soh acho que cê pode ousar mais em liguagem figurada e usar termos mais difíceis... o/ aceite minha recomendação: leia Lolita XD
acho que eh um dos melhores livros nessa questão! ^^

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Porcelain2Doll In reply to Nisai [2007-10-13 16:05:41 +0000 UTC]

nya! valeu! ><~
posso dar uma lida... mas acho esse livro suspeito... XDD~

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Nisai In reply to Porcelain2Doll [2007-10-13 16:13:12 +0000 UTC]

num tem nada demais nesse livro... XD
Lolita eh completamente inocente... sem falar que, as coisas que cê lê... u.u
XD

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